sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

 Violoncello feito de Cedro por Mestre Totonho de São Félix Mauriti ce
 Violoncello feito de Cedro por Mestre Totonho de São Félix Mauriti ce


Violoncello feito de Cedro por Mestre Totonho de São Félix Mauriti ce



























domingo, 1 de novembro de 2015

Agricultor destaca-se como fabricante de violinos e violoncelos


01:22 · 18.04.2005
( Antônio Vicelmo )
As mãos que puxam a enxada no amaino da terra bruta são as mesmas que, com arte e habilidade, fabricam um dos mais nobres instrumentos musicais. O agricultor Antônio Gomes da Silva, conhecido por “Totonho” divide o seu tempo entre a roça e uma pequena oficina de fundo de quintal, onde ele fabrica violinos, contrabaixos, violoncelos e violas que estão sendo exportados para São Paulo e, de lá, para o exterior. O requintado acabamento dos instrumentos contrasta com a pobreza da Vila de São Felix, a 18 quilômetros de Mauriti, onde o artesão reside com a mulher e dois filhos. De sua modesta tenda de trabalho, localizada nos confins do mundo, ele projeta para o Brasil e para o exterior a marca “Northecson, made in Brazil”, que identifica seus instrumentos.

A história de Totonho é a repetição do sofrimento dos nordestinos que, tangidos pela seca, deixam a terra natal à procura de emprego no Sul do País. Ele sempre viveu da agricultura. Nas horas vagas, costumava fabricar guarda-roupas e cristaleiras. A seca de 1981 obrigou Totonho a se alistar do programa de emergência que estava sendo implantado no Município de Mauriti. Seu destino era construir açudes, estradas e barragens, juntamente com outros conterrâneos, vítimas da estiagem e da pobreza crônica que predomina no sertão.

Antes de começar a trabalhar nas frentes de serviços, Totonho tomou outra decisão. Casado, há quatro meses, ele anteviu que a “mincharia” paga pelo governo não dava para o sustento da família. Resolveu, então, viajar para São Paulo. Vendeu o pouco que tinha e tomou o rumo do Sul do País num ônibus da Viação Varzealegrense. Trabalhou como servente de pedreiro e montador de estruturas para construção de pontes. Por conta da firma, visitou alguns países da América do Sul.

De volta a São Paulo, conheceu o maestro e fabricante de violinos Augusto Lombardi, com quem tentou aprender a tocar. Nunca tinha visto um violino. Como músico, foi um fracasso. Mas botou na cabeça que podia fabricar o instrumento . O primeiro violino fabricado, que ele guarda com carinho embrulhado no fundo de um caixão, foi uma decepção. “Parecia mais uma rabeca do que um instrumento”, compara. “Não mostrei a ninguém, com vergonha”, confessa.

Mesmo assim, Totonho não desistiu. O violino ficou na sua cabeça. Um dia sonhou que estava debaixo de uma grande árvore, cujo tronco se apresentava em forma de violoncelo e, nas galhas, no local dos frutos, desprendiam-se pencas de violinos. O sonho reforçou o desejo de Totonho de fabricar o instrumento. Procurou novamente o italiano Augusto Lombardi que lhe forneceu todas as medidas. Recebeu orientações do também fabricante de violinos Juvenal Araújo de Souza, natural de Cajazeiras (PB).

Daí para frente, foi uma mão na roda. Totonho transformou-se num exímio fabricante de instrumentos de corda, que passaram a ser comprados por importantes firmas do ramo em São Paulo. A vida mudou da água para o vinho. Tornou-se conhecido como um dos mais famosos “luthiers” (fabricantes de violino) de São Paulo.

Mas a saudade de casa era de matar. A família, a casinha de taipa, a roça, o milho verde, a canjica, o ronco do trovão, enfim a vida sossegada da vila São Félix nunca saíram da mente desse mauritiense que também estava apavorado com a violência paulistana. Na primeira oportunidade, pegou o ônibus de volta e desembarcou no Cariri, trazendo na bagagem alguns tostões e, na cabeça, a arte de fabricar violino.

Construiu sua oficina atrás da casa, no final da rua. A primeira dificuldade foi encontrar o tipo de madeira ideal para fabricar os instrumentos. Descobriu que a umburana e a violeta eram de ótima qualidade. “O trabalho não é nem um pouco fácil e exige muita precisão e dedicação de quem se dispõe a executá-lo. No Brasil, a luteria encontra certas dificuldades, pois não existe qualquer tipo de literatura em português ou cursos que ensinem a arte”, reclama. Nem mesmo materiais necessários estão disponíveis no mercado. Algumas madeiras, como o ébano, por exemplo, são importadas.
Antônio Vicelmoenviado a Mauriti